O Fusca é um carro que
simplesmente não deixa ninguém indiferente a sua existência. Alguns o amam,
outros o odeiam. Uma coisa unânime entre os dois grupos é que, com seu desenho
incomum, o besouro não exala esportividade e seu desempenho realmente fica abaixo
da média se comparado a motores mais modernos de cilindrada igual ou até
inferior. No Brasil, graças a nossa pavimentação lunar e questões burocráticas,
que impedem a legalização de motores preparados em muitos estados, fica cada
vez mais comum os proprietários realizarem alterações no visual de seus Fuscas,
buscando um toque de esportividade, mas optando por não modificar o motor e
manter o desempenho apático do pequeno motor boxer refrigerado a ar.
A primeira vista, mesmo os
mais entendidos no assunto, custam a acreditar que aquele ronco peculiar e o
típico espirro de válvula prioridade vem do modelo 1963 pertencente a Tulio Anaya,
já que o carro do empresário mostra um visual completamente old school, com
diversos acessórios de época, como os grandes faróis de milha instalados acima
do para choque dianteiro, o bagageiro de
teto, o para-sol acima do para-brisa dianteiro, as polainas nos para-lamas traseiros, as belas rodas da marca nacional
Fumagalli e parece ser só mais um bonitinho mas ordinário. Mas como diz o
ditado, quem vê cara não vê coração, ou no caso, quem vê carroceria não vê
motorzão, e ao abrir o capô é que somos surpreendidos novamente com a mecânica
do 63, que não está para brincadeiras.
Equipado com um kit de
pistões forjados, camisas e anéis Mahle de 94 mm, o motor chegou a exatos 1915
cc, substituindo o pequeno 1200 de 36 cv que o equipava originalmente. Como se
já não fosse o bastante, Tulio decidiu deixar a coisa ainda mais séria e
instalou um kit turbo com turbina Master Power .42 x .50 trabalhando com 0,6
bar de pressão, tudo montado pela oficina Ladeira. Um saudoso e legitimo par de
carburadores Weber 40 trabalhando com álcool e acertado pela Concept Car
Motores fica responsável por alimentar a usina, que gera 305 cv medidos em dinamômetro
de rolo.
Para segurar a onda nas
aceleradas e ainda garantir o visual insano do quadro e assoalho quase
encostando no chão, Tulio levou seu carro até a Katraka, que tratou de fazer
uma suspensão a moda antiga: o quadro foi encurtado em 5 cm de cada lado e foram
instaladas um par de catracas, enquanto a traseira conta com facão original,
que sofreu somente regulagem. Os freios, pasmem, permaneceram a tambor nas 4
rodas e tem muito trabalho para imobilizar azulzinho quando o pedal cola no
assoalho.
O interior do carro de Tulio
é resultado de uma mistura na medida exata de originalidade com esportividade
de época, com bancos baixos, cintos de 2 pontos, volante Walrod, alavanca EMPI
Trigger, cesta porta objetos/porta copos no túnel central e o belo conta giros
de 5” da nova linha Volks da marca nacional Cronomac, que possui um exclusivo
desenho que imita o velocímetro original do Fusca, além de manômetros de óleo,
combustível e pressão do turbo e termômetro de óleo da mesma linha.
Portanto, se você é do time dos que não gostam do Fusca, quando avistar este exemplar no retrovisor, dê passagem e admire o modelo sumindo de sua vista, a menos que tenha certeza de que possui um carro com potência, peso e capacidade de tração igual ou superior, caso contrário terá mais um motivo para odiar o besouro.